Um sapato não me serve mais, mas ele é tão bonito que eu quero usar numa festa. Eu olho pra toda a sua beleza e pra maneira que eu me sinto bonita e feliz quando o calço. E eu calço. Mesmo apertando eu insisto e vou. Só que no primeiro calo da noite eu sinto na pele o motivo dele estar abandonado no canto do guarda-roupa.
(Um amor não me serve mais, mas ele é tão bonito que eu quero usar na vida. E eu olho a beleza que ele tem e como ele me torna uma pessoa mais bonita e feliz quando deixo ele me tomar. E eu abro a porta. Mesmo apertando eu insisto, e amo. Só que na primeira mágoa do retorno eu sinto na pele o motivo dele estar abandonado no canto do coração.)
A pergunta é: o que um sapato(amor) que é pequeno faz no meu guarda-roupa(coração) se não me serve?
Ele ocupa espaço que poderia ser usado com um sapato(amor) que eu possa usar sem medo na festa(vida).
Eu preciso de muita coisa pra me sentir feliz e realizada na vida. Passar no vestibular, me formar, trabalhar com o que eu gosto, adotar mais pets, comprar um video game pra colocar na casa nova que vou morar, sozinha.
Veja bem, sapatos e amores pequenos não se enquadram. Não acrescentam. Não fazem nada além de me atrasar, apertar, machucar.
Me olharam nos olhos e me disseram que eu estou na melhor fase da minha vida, e que meu sorriso tá ganhando aquele negócio de novo. Aquele negócio que a vida roubou. E eu acreditei. Acreditei tanto que tudo o que tenta tirar de mim esse brilho tá sendo dispensado.
Esse sapato pode caber em um pé menor, sabe? Pode existir alguém por aí precisando de um amor nessa medida. Então, mesmo que pra alguns seja egoísmo, eu vou colocá-los numa sacola e tirá-los da minha vida.
Porque de calos eu já tenho coleção, até menos nos pés do que no coração.
Cláudia
sábado, 15 de agosto de 2015